Marina Silva, a mulher de saúde frágil que aprendeu a ler aos 16 anos e quase 
virou freira, sonha em ser presidente do Brasil. Acriana do vilarejo de Breu Velho,
 pobre e filha de seringueiros, Marina entrou na política em 1985, aos 27 anos, 
por influência do ambientalista Chico Mendes, com quem fundou o PT no Estado. 
 A militância em favor dos seringueiros a levou rapidamente à Câmara de 
Vereadores de Rio Branco e, em seguida, à Assembleia do Acre. Em 1994, aos 
36 anos, tornou-se a senadora mais jovem da história do país. Sempre com a
 causa verde na ponta de sua afiada retórica, em 2003 Marina virou ministra do
 Meio Ambiente do governo Lula – e começou a cobiçar a Presidência da 
República. No PT, porém, suas chances de disputar o cargo seriam nulas.
Em nome da utopia, Marina fez uma escolha pragmática. Convidada a ser 
candidata à Presidência, aceitou filiar-se ao Partido Verde, o PV, uma pequena 
legenda identificada não apenas com a agenda ambientalista – mas também 
com propostas liberais, como a legalização da maconha e do aborto. Marina, 
que se convertera à religião evangélica em 1997, ignorou as latentes tensões 
entre suas convicções religiosas e as posições liberais da plataforma verde. 
 Apesar do bom desempenho na campanha presidencial do ano passado, 
não deu certo. Dois anos e 19,5 milhões de votos depois, 
Marina decidiu: deixar o PV.
A união entre Marina e o PV começou com promessas e terminou em 
desilusões. Desilusões produzidas, sobretudo, ao sabor das inevitáveis 
divergências de uma campanha eleitoral. Marina e o PV, especialmente por 
meio de seu presidente, José Luiz Penna, discordaram em quase tudo nas 
eleições. Aos poucos, sua campanha separou-se da estrutura do partido. 
 Os problemas começaram na arrecadação de dinheiro. O vice da chapa, o
empresário e fundador da Natura, Guilherme Leal, centralizou os trabalhos 
de coleta de recursos. Os tradicionais arrecadadores do PV se incomodaram 
com a resistência de Leal aos métodos tradicionais – e heterodoxos – 
de financiamento de campanhas no Brasil, do qual o partido nunca foi exceção. 
Um dos dirigentes do PV conta como anedota o dia em que Marina mandou 
devolver uma mala de dinheiro “não contabilizado”, em linguajar delubiano, ao 
empresário paulista que o havia enviado.
O segundo ponto de atrito entre Marina e o PV deu-se em razão da entrada de 
líderes evangélicos na organização política da campanha. 
Pastores da Assembleia de Deus, igreja de Marina, influenciavam 
decisivamente na elaboração da agenda da candidata. A força deles no 
comando da campanha não casava com o perfil histórico do PV. 
Se em sua plataforma e em seu discurso o PV era favorável à legalização da 
maconha, do aborto e do casamento gay, era uma clara incoerência que sua 
candidata à Presidência se colocasse contra essas posições. 
 O PV temia perder o eleitorado urbano, moderno, descolado.
 As lideranças evangélicas argumentavam que isso não seria um problema e 
prometiam trazer 40 milhões de votos para a candidata, caso a campanha se 
voltasse aos eleitores evangélicos.
Ao longo da campanha, Marina não abdicou dos jejuns religiosos que costuma
 fazer pelo menos uma vez por mês. Alguns próceres do PV consideram os 
jejuns uma irresponsabilidade de Marina, em função de sua instável saúde – 
ainda jovem, ela foi contaminada por metais pesados e acometida por graves 
doenças, como malária e hepatite. Em entrevista a ÉPOCA, há um mês, 
ela se irritou diante de uma pergunta sobre esse tipo de crítica.
 “A minha vida espiritual é assim desde que me entendo por gente. Se um 
critério para ser do PV é abandonar minha vida espiritual, então já sei pelo 
que vou optar. Vivo a minha fé e visitar igrejas faz parte da minha fé. 
  Sou missionária da Assembleia de Deus”, disse Marina.
O resultado da eleição confirmou que Marina é, ao menos em votos, a maior 
terceira via que o país já teve desde a redemocratização. Confirmou, também, 
que não havia lugar para Marina no PV – e no PV para Marina. 
“Não houve nenhuma sinalização do PV de que os compromissos com ela
 serão cumpridos, então não há condições de que ela permaneça filiada”, 
afirma João Paulo Capobianco, coordenador da campanha de Marina. 
 Ele a acompanhará na desfiliação nesta semana, ao lado de outras 
lideranças do PV. A saída do partido não significa que Marina desistiu do
 sonho de ser presidente. 
Ela pretende criar um partido para se candidatar novamente, em 2014.